segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Madrugada

A madrugada aproximava-se sorrateira
e trazia com ela a fadiga das horas passadas…
Os olhos lacrimejavam, as mãos adormeciam, as pernas lembravam-me mazelas antigas
Olhei o relógio…os ponteiros indicavam-me o regresso a casa
Hesitei…esperava que a maré que até então me trouxera paz
me trouxesse também, quem sabe, um troféu dessa jornada…
Caminhei na areia, voltei a olhar o relógio e acendi o último cigarro
Não, não vou ainda…fico mais um pedaço
Á minha volta, todos tinham partido sem uma palavra ou aceno
o que me fez recordar que os Homens comparados com o Mar
são apenas Homens, enquanto o Mar, é uma dádiva do Universo
A maré teimava em não me surpreender,
o cansaço apoderava-se do corpo como a neblina que envolve a serra de mansinho
Arrumei a mochila e subi a arriba
Esperavam-me dezenas de quilómetros de viagem, outros tantos perigos espreitavam na penumbra
Lembro-me de ter sonhado…
Recordo que no sonho se entoava um hino à vida e a um canto de uma sala sombria,
muitos rostos choravam…
Confuso perguntei… O que se passa?! Porquê tristeza?! Não tive resposta
Acordei em sobressalto…
O que antes fora cansaço era agora um arrepio de alívio
Ajeitei-me no assento e passei as mãos nos olhos como se limpasse um mau momento
O Sol, envergonhado, nascia á minha frente e…fiz-me á estrada
O que se passou esta noite para chegares tão tarde?!
Não sei, talvez uma demonstração de amor das almas que me acompanham!

2007

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