quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Tempo

Imagino o tempo em que se faz tarde
Tarde de viver
Tarde será se for só amanhã, não lutando para chegar
Talvez hoje já seja tarde, mas não alcanço o farol
Devagar se abrem portas e se fecham outras...
trancadas, ferrugentas, de tanto sentir
Onde há luz, há carreiro que outros caminham
Cabisbaixos, teimam em avançar
E de tarde se faz tempo, tempo de parar
As veredas que levam ao fim...
sinuosas, amargas...
são espelhos do passado que nos tolhe o andar
Não faz mal em chorar, nem bem há-de fazer
Dezembro 2010

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Palavras

Há palavras que nos trespassam como lanças
Nos fazem sorrir como crianças
Nos apertam o coração, como andanças
Nos encorajam, como doces memorias
As outras, indiferentes, são apenas escaramuças
dos tempos em que falar era enganar a confiança
sorrir e trair, pesando na mesma balança
olhar e não querer ver o caminho da mudança
As palavras…
Têm o carinho de quem nos aconchega
o pranto de quem nos implora
a altivez de quem nos ensina
o rosto de quem nos ama
Ditas, da boca para fora,
são amontoados de ignorância


Dezembro 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Enganos

Ontem, caído o pano, as palavras voaram de boca em boca
Uma luz celestial, envolta numa crença qualquer
alumiou casebres, alimentou a fome, adormeceu a dor
Rufaram tambores, deram abraços, sacrificaram a presa
Pisaram memórias, enterraram armas, choraram a esperança
Seguiram a força das multidões, desdenharam o que restou…
Hoje, percorrido caminho, ninguém se lembra de quem abraçou
Frágeis, efémeros…são assim os momentos de enganos
Sentado na plateia, observo impávido o desmoronar…
Vão passar anos, servir rodeios, prometer mundos
A fé também se compra… só até ao amanhecer
Depois, tal com antes, quando o sol brilhar
não haverá Povo que albergue, tantos lamentos

Dezembro 2010