domingo, 27 de setembro de 2009

O modo como vivemos a vida, os sonhos que alimentamos,
distantes, infinitos…
O gozo que temos quando ultrapassamos uma barreira
das milhares que se nos deparam,
é a força e passada certa que nos leva à morte.
Nos labirintos da imaginação
Na realidade de um mundo feito de lugares comuns,
de sonhos comuns, de passadas comuns
e... de mortes tão diferentes
Não nos poderemos nunca sentir orgulhosos,
a não ser que a morte seja um dia igual para todos nós

200...

Estado de espírito [seja lá o que isso for]

A tempestade de momentos que nos fabricam os dias
momentos iguais, sem cor nem calor
E as verdades cruas de outros momentos, que só são verdades porque dias diferentes se tornaram em tormentos…
Somos imunes à vida
Somos milhões que do mesmo sol, apenas conhecemos a sombra

=Ano 1996=

Os velhos

Sentados á beira da estrada
olham os que passam com olhar meigo
de quem vive a vida sem remorsos
e dela aceitam os bons e maus momentos
São marcos do tempo que nos retraem os queixumes
lições de vida prostradas aos nossos olhos
lembrando a quem passa que viver a vida
é bem mais do que sentir pena de nós próprios
é bem mais do que entregar-se á desgraça!
Rostos marcados por um fim que se adivinha
serenos, morenos do sol que os espreita de dia
e á noite se lhes esconde na alma
Sinto vergonha em mostrar a cara…
Sinto vergonha das pragas rogadas á existência
esmagado por essa imagem de sabedoria e paz
de Homens grandes do meu País!

2007
Há uma voz que se ergue na multidão
Outra que cai manchada de odio
Um sonho que se fica na penumbra
Bocas que se calam
Bocas que se fecham para sempre
Há um pensamento que se grita
e um slogan que se berra
Há a voz da liberdade
Há liberdades sem voz...
Há palavras de ideologias mudas
e há homens que se vestem com uma qualquer

=Ano 1983=
Cansado de ouvir no tempo a minha insignificancia
Descobrir-te a cada olhar e de olhares me cobrir
Sentir-me trémulo a cada passo nos passos que hei-de dar
Cansado de ti, de te sorrir, desconhecendo o cansaço
Sentir-te em mim sem te conhecer e morrer de medo de te perder
Enfim, amar-te e recusar-te um carinho
Cansado de ti, sem te esquecer um pedaço

=Ano 1984=

Tu e mais um dia...

Noite passageira do meu corpo
como te invejo a luz dos sonhos
como te sinto em cada beco na cidade que negreja a cada luz
Este mar que te pertence,
mar ou corpo que te deslumbra,
é amante do teu silencio quando me cobres de magia,
o doce aroma da tua existência
Tu e eu, ajeitando o manto de mais um dia...

=Ano 1983=
Atentado de mãos cheias, grito obsceno na noite
Grito e mastigo palavras surdas, incolores...
Aperto o lápis entre os dedos até o manchar de ódio
Lembro ao sol que um dia pode ser uma vida
Recordo um sonho, sonho de esperança
e vivo a sua derrota sem mais nada

=Ano 1983=

Evolução

Sentir desejo e quebrá-lo em mil pedaços
Falar contigo e fugir-te em cada sílaba
Chorar por ti e sorrir-te nos soluços
Dar-te a mão, olhar-te nos olhos e por fim...
Amar-te!

=Ano 1984=
Passeio a noite a meu lado
porque o lado direito da noite,
se ela tivesse dois lados,
levaria ao meu leito algo anormal, inquietante, sem jeito,
mas em equilíbrio perfeito na confusão do meu espírito em declínio total
Sem razão nem conceito, nem mar, nem pão, nem peito
Com efeito, a loucura começa assim...

=1984=

Sonho

Se o sol caísse nas minhas mãos
se as aves gritassem a minha dor
se a pena de estar só, iluminasse o meu caminho
O sonho não teria razão de ser...

=Ano 1984=

Vejam o meu corpo

Vejam este corpo inteiro
porque inteiro está o vazio da minha alma mutilada
O sol já não me aquece
a sombra foge de mim
E tu, somente tu, me escondes das trevas...

=Ano 1983=

Branco de Paz

O meu livro em branco...
Branco de Paz!
Só...incapaz de criar
Testemunho de mim porque as palavras vivas que contém
são o meu "eu" sem serem minhas!
Todos as poderão negar, sentir e sonhar
porque elas são para vós, sem serem vossas!
Repousam...
até que uns olhos de medo as levem para mundos de poesia!


=Ano 1984=